Poesias Práxis
A vanguarda poética dos anos 50 e 60 que mais deu o que falar foi a poesia práxis. Como o nome sugere, a idéia central era construir poemas com base na prática da vida. O manifesto didático da poesia-práxis foi publicado em 1962, no livro de Mário Chamie, Lavra Lavra, em que estavam algumas premissas básicas do grupo. Os praxistas, abertamente contra o Concretismo, repudiavam a “estrutura matemática” do poema e afirmavam que o espaço em branco da página não era tão importante.
A poesia-práxis redescobre o verso como estrutura básica do poema, mas não da maneira tradicional. Sempre há uma palavra básica (ou palavras básicas) que funciona como vetor (orientação) das outras. O poeta busca, na prática, no dia-a-dia, o objeto do seu poema de tal forma que autor-objeto-leitor são os autores da obra.
Leia a seguir poemas de Mário Chamie:
POVO
um cardume sem dono
um ardume nos olhos
um friúme nos ossos.
uma frebeuma peste.
um fio de fumo
nos olhos do homem.
um fio de gume
no lombo de couro do pobre.
um corte sem rumo.
Xo cardume dos peixes do lucro:o azedume.
o ofício pro domo do dono
do couro no cume do custo do ouro.
PLANTIO
Cava,
então descansa.
Enxada; fio de corte corre o braço
de cima
e marca: mês, mês de sonda.
Cova.
Joga,
então não pensa
Semente; grão de poda larga a palma
de lado
e seca; rês, rês de malha.
Cava.
Calca
e não relembra.
Demência; mão de louco planta o vau
de perto
e talha: três, três de paus.
Cova.
Molha
e não dispensa.
Adubo;pó de esterco mancha o rego
de longo
e forma: nó, nó de resmo.
Joga.
Troca,
então condena.
Contrato; quê de paga perde o ganho
de hora
e troça: mais, mais de ano
Calca.
Cova:
e não se espanta.
Plantio; fé e safra sofre o homem
de morte
e morre: rês, rés de fome
cava.
SIDERURGIA S.O.S.
Se der o ouro sidéreo opus horáriO
Sem sol o sal do erário saláriO
Ser der orgia semistério o empresáriO
Siderurgia do opus o só do eráriO
Se der a via do pus opus erradO
Se der o certo no errado o empregadO
Se der errado no certo o emprecáriO
O TOLO E O SÁBIO
O sábio que há em você
não sabe o que sabe
o tolo que não se vê.
Sabe que não se vê
o tolo que não sabe
o que há de sábio em você
Mas do tolo que há em você
não sabe o sábio que você vê.